Chove lá fora e o Jazz percorre todo o ambiente, sou o ultimo acordado aqui. Uma nuvem densa de confusão toma o ar, mal consigo ver ao meu redor, devido ao cansaço minha visão falha; tudo se torna turvo e cristalizo repetidamente em poucos segundos.
A chuva não desiste de cair agressivamente sobre o telhado. Sentia as pancadas da água, os cortes do raios e a fúria dos trovões diretamente sobre mim, mas havia algo errado, meu corpo estava protegido contra essa agressão. Me dei conta que o que sentia estava apenas sendo narrado pela chuva, ela fazia a sonoplastia da minha peleja interior.
Estaria eu andando em direção ao caminho errado? O que me espera? Tristeza? Desapontamento? Desonra?
Parecia que a cada minuto que passava os meus demônios lutavam entre si, todo ambiente se esvaia e o foco fechava em um lugar que não era pra me chamar atenção.
Tenho certeza que dezembro não falhará em sua maldita tradição, terminar o ano com a sensação de algo errado já é tão tradicional que não sei mudar isso, não sei passar o réveillon de forma feliz. Nunca soube, sempre estou apontando a culpa da minha infelicidade para outras pessoas. Mas como posso ser feliz se nunca estou satisfeito?
Não havia pensamento, havia apenas uma noite chuvosa que todos estavam se divertindo. Ouço uma voz, procuro de quem ela tinha saido. Meus olhos se encontram com olhos conhecidos, olhos assustados que não sabiam como reagir. Expressão de susto tomava conta da face que portava aqueles olhos, a mão direita sobe até a altura do rosto, ganho um leve e tímido “oi”.
Recuso-me a acreditar no que vejo, retiro aqueles óculos de festa e sou golpeado na nuca por anos de memórias, Por alguns segundos todo meu corpo entra em stand-by não sei como reagir, se reagisse do modo que eu queria eu iria arruinar aquela noite. Gostaria de saber o que aconteceria se eu não tivesse segurado meus impulsos. O que aconteceria? Talvez Dezembro esteja ganhando novamente, ou talvez nunca tenha sido uma batalha, apenas tento fugir da realidade mascarando a tristeza com outros rostos e colocando a felicidade sempre distante. Mas a pergunta que não quer calar é: Como seria minha vida se eu não tivesse feito aquilo?
“We only said goodbye with words
I died a hundred times”
Back to Black – Amy Winehouse