Você consegue sentir o frio vagarosamente se aproximando? Um frio gostoso que infelizmente faz com que involuntáriamente eu comece a pensar sobre o atual estado da minha vida, e por mais que o copo esteja sempre transbordando, ainda vejo o copo meio vazio. Talvez eu tenha algum problema ou bloqueio que me impeça de ver o mesmo meio cheio.
Parece que independente de quanta água seja despejada dentro do copo, sempre haverá algo que absorverá a mesma e imediatamente transforme ele em um copo meio vazio, talvez seja algo do passado que absorve a água, ou ele está simplesmente furado e a única solução seja joga-lo fora.
Creio que a Teoria T esteja relacionada com isso, ou talvez ela seja apenas uma desculpa lógica que eu inventei para minha melancolia. Talvez a minha incapacidade ver o copo meio cheio esteja diretamente ligada ao fenômeno do urso branco, que nada mais é que um fenômeno que prova que quanto mais tentamos reprimir um pensamento, paradoxalmente estamos pensando nele, e talvez o fato de eu creditar na teoria T, me faça ser um alvo da mesma.
Percebo que quando o copo está começando a se encher a Incógnita mesmo sem saber, consegue esvazia-lo, talvez pelo fato de eu jamais conseguir resolver esta maldita, ou talvez porque suas fórmulas sejam difíceis de mais. O fato de nunca conseguir revolvê-la me traz a tona uma imensa tristeza que me consome por semanas, sinto que falhei. Sinceramente o que mais me corrói é que jamais saberei se não consegui resolver a Incógnita pois sou inapto a revolvê-la, ou ela que esteja inapta a ser resolvida.
Possivelmente o peso do fracasso e essa angústia sejam as esponjas que consomem a água do meu copo, e me façam acreditar fielmente na Teoria T.
A triste realidade volta a tona quando imagino uma linha do tempo partindo de agora para o futuro, só consigo imaginar um bar à meia luz e uma garrafa de vodka pela metade.
Recentemente ao começar com as aulas de teatro, percebi que a teoria retornara, e infelizmente o fenômeno urso branco também retornou. Me dá um aperto no peito pensar sobre a Beija-flor, pois sempre me pergunto se é a beija-flor que beija a flor, ou a flor que beija o beija-flor, por mais poético que seja, não há poesia na realidade duvidosa que me faz pensar em outras perguntas. O que acontece depois? o beija-flor vai até outros campos e esquece do seu jardim? Ou talvez o jardim a deixe feliz e ela jamais volte a procurar outros campos novamente. Seria crueldade o jardim tirar tão belo beija-flor de seu campo? Que culpa teria o jardim? Pois o ato mais grosseiro que ele fez foi ficar parado lá e eventualmente atraiu a beija-flor até suas flores.
São tantas perguntas, infelizmente as respostas geram mais perguntas e algumas paradoxalmente inexplicáveis, porém, independente do que aconteça, independente das flores, das beija-flores e dos seus campos e jardins, espero que a Teoria T seja apenas um reflexo do fenômeno do urso branco em ação, e que algum dia, alguém apareça e prove que a supramencionada Teoria T jamais existiu.
“Don’t want to let you down
But I am hell bound
Though this is all for you
Don’t wanna hide the truth“
Demons – Imagine Dragons
